Bom
dia. Foi sim senhor, trabalhei na obra do Maracanã, virava cimento,
levantava concreto, eu que tento me manter reto, no prumo dessa vida.
Sim, me dava bem com os colegas. Trabalho em equipe. As metas? Cumpri
todas. Sem atrasos, sem faltas. Não sou de faltar, nem nas
segundas-feiras. O senhor sabe, segunda é o dia da falta no Brasil. O
peão bebe o domingo todo e na segunda não consegue levantar. Eu, não.
Gosto da minha cervejinha, mas nada que me derrube. Como? Foi... É...
Derrubei um engenheiro lá. Enfiei um soco na cara dele. O cara tava de
implicância comigo. Um dia ele me ofendeu. Falei que era a mãe dele, não
a minha. E pra ele não esquecer, quebrei esses dente aqui dele, ó.
Virou o engenheiro mais banguela do planeta. O quê? Ah, tá... sim
senhor... eu aguardo o senhor entrar em contato. Bom dia.
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
A Gota d'Água: Cintia
As
palavras que a mulher lhe dissera ainda martelavam em sua mente. Já completava
duas semanas desde que ela deixara de entrar em sua casa. Novamente um pedido
de desculpas e de que ele desse um tempo para que as coisas melhorassem. Ela
voltaria. "Espere, tenha um pouco de paciência". Não demorou
para ele perceber que eram promessas vazias.
"São poucas as pessoas que fazem valer suas palavras", lembrou do livro. "Qual mesmo? Era o mesmo que a Dilma havia dito ter lido." Assim como ela, ele não se lembrava do título, mas a frase havia ficado em sua memória: "São poucas as pessoas cujas palavras correspondem por completo à realidade das suas vidas. Talvez seja esse o fenômeno mais raro da vida." Seria verdade? Não era assim com ele. Tivera amigos de palavra. Sempre tentava ser verdadeiro em suas atitudes. "Palavras belas ao se revelarem...
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Pintor de paredes: novaes/
Durante todo
o tempo ouvi daquela nobre senhora as mais veementes recomendações. A reforma
em seu grandioso apartamento de frente para a floresta haveria de ficar
perfeita. Meu trabalho era emassar as paredes e pintá-las, tudo com muito
cuidado, sem deixar pingo no sinteco e com os recortes feitos na maior retidão.
Ouvi daquela senhora todos os avisos, do quão importante seria respeitá-los, segui-los
como se minhas mãos robóticas fossem programadas para aquela função precisa,
matemática, infalível.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Um pai: Carlos Rosa Moreira
Eu ainda era pequeno, mas desde que o meu pai me dera o livro não pensava em outra coisa: precisava conhecer o Lago Tanganica. Esperava meu pai chegar para conversar sobre o lago e os caminhos que levariam até ele. Bom mesmo foi ouvir o meu pai dizer que o havia conhecido, mas que era muito difícil chegar até lá.
‒ Um dia você terá de ir e, sem esperar, nós sairemos em viagem.
Uma noite, ouvi meus pais discutirem. No começo parecia briga, mas depois minha mãe se acalmou e cedeu, como se soubesse que a razão estava com meu pai. No fim ela pedia, tentava tocar o coração dele, e senti que conseguia. Os dois se abraçaram, choraram, mas sabiam que chegava a hora e eu teria de ir com meu pai. Um pouco mais tarde, emocionado, ainda com os olhos vermelhos, ele se sentou ao meu lado na cama.
sábado, 8 de setembro de 2012
O Candelabro: Elenir
Contrastando
com a simplicidade da casa, havia, pendurado no teto da sala, um
candelabro de cristal. Explicava-se: Seu Chico, velho comerciante,
aceitara-o em pagamento de uma dívida. Poderia, assim, satisfazer antigo
sonho de Dona Cotinha, sua mulher.
Conforme
previra, o presente encantou-a. Era muito mais belo do que em sonhos
imaginara. Acariciou cuidadosamente os longos pingentes e as rosas com
miolos feito velinhas, do mais puro, brilhante e transparente cristal.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Aparências: Gracinda Rosa
Elza cumpria sua obrigação diária de uma caminhada pela praia, antes das dez horas, segundo recomendação médica. Para se expor melhor aos benefícios dos raios solares, vestia apenas um biquíni. Numa sacola a tiracolo, levava a canga e as sandálias de dedo que usava no trajeto de ida e volta, entre a casa e a praia de Icaraí. Caminhava solitária, percorrendo toda a orla, desde o Canto do Rio até as proximidades da Pedra do Índio. Dali voltava, sempre na faixa em que o mar se encontrava com as areias. A água fria molhava seus pés e respingava pelas pernas, refrescando-as gostosamente, naquelas manhãs quentes do verão de Niterói. Era agravável andar pela praia, podendo observar a paisagem tão bela que se oferecia a seus olhos. Para além do mar, do outro lado da baía, está o Rio de Janeiro, com o recorte de seus morros, onde se destacam o Corcovado e o Pão de Açúcar. Do lado de cá, temos o longo contorno das praias e, onde elas terminam, na elevação que conduz à Boa Viagem, a imponência do Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
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sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Abismo - O Conto: Mr. EPA
Comunicado Final - Estado Máximo de Alerta
12-09-2012 09:29
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12-09-2012 09:29
Objeto
celeste identificado como Eugenia encontra-se a 145.165 km da Terra.
Impacto direto com o planeta é esperado ocorrer em 15 de Setembro de
2012.
São
os equívocos cometidos ao perseguir nossos objetivos que nos conduzem à
realização dos anseios mais profundos e autênticos. O que parece muitas
vezes tolices humanas é reflexo do que emana das estrelas, de
compulsões celestes. Porém, não são os astros no céu que nos governam,
mas nós mesmos que viemos um dia das estrelas e que revelamos nosso
destino aos que souberem decifrar o sinal que está visível na face de
cada um.
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domingo, 19 de agosto de 2012
A última noite: Antonio Rodrigues
Faz escuro mas eu canto
Porque
a manhã vai chegar
Thiago de Mello
No horizonte ainda se pode ver a
sobejidão de tons vermelhos e alaranjados, que por estas bandas parecem ser as
cores do crepúsculo desde a infância do mundo a se revelarem sempre na hora
exata da transição entre o dia que ainda não se acabou e a noite que ainda não se
fez. Em pouco tempo a escuridão plena da
noite dominará este pequeno pedaço do mundo, onde já o coração de uma mulher agita-se
em ansiosa expectação. Dentro da humilde casa, sobre a mesa da cozinha, uma
velha lamparina prenuncia a chegada de mais uma noite solitária com sua chama
vacilante e o seu sempre incômodo cheiro de querosene a espalhar-se pelo ar. Todavia,
a noite que se inicia há de ser diferente de todas as outras noites solitárias
por que teve de passar esta mulher, pois não tarda a vir o medo inquietar-lhe o
espírito e fazer-lhe o coração disparar, o corpo regelar e um grito de
desespero escapar do mais profundo de sua alma; e quando houver isto de ocorrer,
sem nada mais que lhe reste fazer, há de sair pelo mundo levando consigo apenas
essa tênue luz de lamparina por companhia, com a qual contará para vencer o
medo do que está por vir e guiá-la na imprecisão dos passos por entre as trevas
de uma noite sem luar, na esperança de que logo venha um novo sol e uma nova
manhã a lhe anunciarem que não há dor nem sofrimento nem tristeza nem solidão
que não se acabe.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Por um momento: Carlos Rosa Moreira
Ela levantou os olhos do livro e avistou o pontinho escuro no alto
da parede. Toda vez era isso: parecia que o pontinho atraía o seu
olhar para dividir com ela a chateação que eram seus dias. Como das
outras vezes, o enfado com a leitura guiou seu olhar até o pontinho.
Não que não gostasse de ler, mas naquele momento preferiria estar
fazendo outra coisa. Se pelo menos ele quisesse curtir a manhã...
Fazer amor de manhã, depois dar uma caminhada, como antes... Ele
estava na sala. Ainda de pijama apesar de ser manhã de sábado
ensolarado. Apoiava os pés sobre o velho pufe de couro. Parecia uma
estátua sentada na poltrona. Como de hábito, havia lido três
jornais e relia não sei o quê. Que vida... E à tarde lá vem
televisão!
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terça-feira, 14 de agosto de 2012
Trevas: novaes/
Não
me é fácil falar. Vinha pela rua escura, cabisbaixa, pensativa, sob o peso da
noite, da minha vida à meia-luz, nada é claro, claro, apenas minha angústia
perene, sei lá de quando ela vem, houve um dia em que a vida parou, partiu-se
em duas metades – uma verde, brilhante, esperançosa e sorridente, que ficou
para trás, outra cinzenta, turva, disforme, essa metade em que vivo agora, vida
pelo meio, pisando em chãos inseguros, em superfícies suspensas, cambaleantes,
que não me permitem nada mais além desse andar vacilante. Apesar de todas as
dúvidas em meu pensamento absorto, eu mantinha um passo que se tentava firme
naquela noite, naquela rua deserta, mais por medo do que por decisão.
sábado, 11 de agosto de 2012
Passagem: Cristiana Seixas
Já passava de duas horas da manhã. Acabara de ler o livro. Estava
arrebatada, assustada, sem chão. As
palavras ainda não tinham sido inteiramente absorvidas, processadas, mas algo
já parecia fazer efeito causando uma espécie de tonteira, vertigem. O coração
batia forte como se antevisse o risco. Teve medo. Sentia-se muito só, apesar do marido e do
filho estarem dormindo no cômodo ao lado. O silêncio da madrugada só
intensificou seu desconforto. Na sua
inquietude, buscou algo que há muito tempo não trazia à vida. Ainda não sabia o que pensar, o que dizer, o
que fazer, mas precisava de um canal de expressão. Aquele nó na gartanta precisava
sair, do contrário ela sufocaria.
O reencontro: Carlos Rosa Moreira
No restaurante da sobreloja do shopping, o movimento não era
grande. Apenas algumas mesas estavam ocupadas naquele canto do
corredor. Por isto, foi o ponto escolhido para o reencontro.
‒ Nós não devíamos estar aqui ‒ disse ela.
‒ Por que não? O que tem se nos virem? Somos dois amigos que se
encontraram casualmente na hora do almoço.
O Gato de Minha Mãe: Ilnéa País de Miranda
O gato da minha mãe não foi só um, foram muitos. Mas contando nem parece que foram tantos. O gato era Chaminho. E era sempre Chaminho não importava cor ou procedência. Sempre de raça “puríssima” Chaminho era contado, e cantado, e decantado.
A criatura nem sequer tinha um número atrelado ao nome como os Reis das histórias que eu lia e ouvia dos meus contadores. - aquele número
que para criança é letra e para adulto é “romano”: Dom Felipe II, Dom
Carlos I... Acho que faltava linhagem ao gato da minha mãe. Chaminho,
assim, ao invés de nome, era sinônimo.
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sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Desilusão: Rita Magnago
- Marcos, meu amor, já leu o jornal hoje?
- Acabei de acordar.
- O STF nos reconheceu, podemos ir ao cartório e sacramentar nossa união.
- Como assim?
- Agora as relações homoafetivas são aceitas no Brasil, eu estou tão feliz. Queria fazer uma festa pra celebrar nossa união. Nossas bodas de madeira estão quase chegando, né?
- Bodas de madeira, que é isso? Comemoração do pau?
domingo, 5 de agosto de 2012
A VIAGEM DO FILHO QUERIDO: novaes/
Tudo bem que adolescentes são estranhos. Está certo que os hormônios põem-se a trabalhar, a atrapalhar a ordem até então estabelecida; ok que os púberes rejeitem a infância e almejem a maturidade e, ainda, que confundam sua ansiedade por tomar decisões com a capacidade real de tomá-las. Está tudo muito bem, mas não há como negar que são seres estranhos esses, apenas não tão estranhos para nós porque já o fomos um dia e sabemos como é sê-lo, ou pelo menos deveríamos sabê-lo.
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quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Eis que morto acordei: novaes/
Eis que morto acordei: novaes/
Acordei morto. Não poderia, mas aconteceu. Despertei-me da vida. Emergi desse mundo. Não foi sonho, mas sono profundo, acordado, fora do mundo. Foi um mergulho ao contrário, um libertar-me das águas, das ruas, das casas, das pessoas. Um soltar-me de mim mesmo, dos limites. Sim, um desprender-me de todos os infinitos limites que nos definem, que tão definitivamente nos moldam, ossos, músculos, pele, cérebro, e como tal nos possibilitam. Morri, impossibilitei-me, inexisti, e acordei desse modo, não vivente, falecido, cadáver nascido subitamente, como sói acontecer a todos algum dia, um belo dia, em que acordamos da vida para sempre.
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