Não
me é fácil falar. Vinha pela rua escura, cabisbaixa, pensativa, sob o peso da
noite, da minha vida à meia-luz, nada é claro, claro, apenas minha angústia
perene, sei lá de quando ela vem, houve um dia em que a vida parou, partiu-se
em duas metades – uma verde, brilhante, esperançosa e sorridente, que ficou
para trás, outra cinzenta, turva, disforme, essa metade em que vivo agora, vida
pelo meio, pisando em chãos inseguros, em superfícies suspensas, cambaleantes,
que não me permitem nada mais além desse andar vacilante. Apesar de todas as
dúvidas em meu pensamento absorto, eu mantinha um passo que se tentava firme
naquela noite, naquela rua deserta, mais por medo do que por decisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário