Caminhava pelo tempo como uma diva consciente de sua
finitude, percorria madrugadas chuvosas, lutos molhados, riscos esquecidos,
paralelepípedos escorregadios, caminhos manufatureiros para chegar ao trabalho,
antes da grande sirene. Cartão batido, cão latindo na rua, bramidos mecânicos
ali dentro, urgência de ser.
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sábado, 2 de novembro de 2013
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
As histórias que contam: novaes/
Bom
dia. Foi sim senhor, trabalhei na obra do Maracanã, virava cimento,
levantava concreto, eu que tento me manter reto, no prumo dessa vida.
Sim, me dava bem com os colegas. Trabalho em equipe. As metas? Cumpri
todas. Sem atrasos, sem faltas. Não sou de faltar, nem nas
segundas-feiras. O senhor sabe, segunda é o dia da falta no Brasil. O
peão bebe o domingo todo e na segunda não consegue levantar. Eu, não.
Gosto da minha cervejinha, mas nada que me derrube. Como? Foi... É...
Derrubei um engenheiro lá. Enfiei um soco na cara dele. O cara tava de
implicância comigo. Um dia ele me ofendeu. Falei que era a mãe dele, não
a minha. E pra ele não esquecer, quebrei esses dente aqui dele, ó.
Virou o engenheiro mais banguela do planeta. O quê? Ah, tá... sim
senhor... eu aguardo o senhor entrar em contato. Bom dia.
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quinta-feira, 22 de novembro de 2012
A Gota d'Água: Cintia
As
palavras que a mulher lhe dissera ainda martelavam em sua mente. Já completava
duas semanas desde que ela deixara de entrar em sua casa. Novamente um pedido
de desculpas e de que ele desse um tempo para que as coisas melhorassem. Ela
voltaria. "Espere, tenha um pouco de paciência". Não demorou
para ele perceber que eram promessas vazias.
"São poucas as pessoas que fazem valer suas palavras", lembrou do livro. "Qual mesmo? Era o mesmo que a Dilma havia dito ter lido." Assim como ela, ele não se lembrava do título, mas a frase havia ficado em sua memória: "São poucas as pessoas cujas palavras correspondem por completo à realidade das suas vidas. Talvez seja esse o fenômeno mais raro da vida." Seria verdade? Não era assim com ele. Tivera amigos de palavra. Sempre tentava ser verdadeiro em suas atitudes. "Palavras belas ao se revelarem...
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Pintor de paredes: novaes/
Durante todo
o tempo ouvi daquela nobre senhora as mais veementes recomendações. A reforma
em seu grandioso apartamento de frente para a floresta haveria de ficar
perfeita. Meu trabalho era emassar as paredes e pintá-las, tudo com muito
cuidado, sem deixar pingo no sinteco e com os recortes feitos na maior retidão.
Ouvi daquela senhora todos os avisos, do quão importante seria respeitá-los, segui-los
como se minhas mãos robóticas fossem programadas para aquela função precisa,
matemática, infalível.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Um pai: Carlos Rosa Moreira
Eu ainda era pequeno, mas desde que o meu pai me dera o livro não pensava em outra coisa: precisava conhecer o Lago Tanganica. Esperava meu pai chegar para conversar sobre o lago e os caminhos que levariam até ele. Bom mesmo foi ouvir o meu pai dizer que o havia conhecido, mas que era muito difícil chegar até lá.
‒ Um dia você terá de ir e, sem esperar, nós sairemos em viagem.
Uma noite, ouvi meus pais discutirem. No começo parecia briga, mas depois minha mãe se acalmou e cedeu, como se soubesse que a razão estava com meu pai. No fim ela pedia, tentava tocar o coração dele, e senti que conseguia. Os dois se abraçaram, choraram, mas sabiam que chegava a hora e eu teria de ir com meu pai. Um pouco mais tarde, emocionado, ainda com os olhos vermelhos, ele se sentou ao meu lado na cama.
sábado, 8 de setembro de 2012
O Candelabro: Elenir
Contrastando
com a simplicidade da casa, havia, pendurado no teto da sala, um
candelabro de cristal. Explicava-se: Seu Chico, velho comerciante,
aceitara-o em pagamento de uma dívida. Poderia, assim, satisfazer antigo
sonho de Dona Cotinha, sua mulher.
Conforme
previra, o presente encantou-a. Era muito mais belo do que em sonhos
imaginara. Acariciou cuidadosamente os longos pingentes e as rosas com
miolos feito velinhas, do mais puro, brilhante e transparente cristal.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Aparências: Gracinda Rosa
Elza cumpria sua obrigação diária de uma caminhada pela praia, antes das dez horas, segundo recomendação médica. Para se expor melhor aos benefícios dos raios solares, vestia apenas um biquíni. Numa sacola a tiracolo, levava a canga e as sandálias de dedo que usava no trajeto de ida e volta, entre a casa e a praia de Icaraí. Caminhava solitária, percorrendo toda a orla, desde o Canto do Rio até as proximidades da Pedra do Índio. Dali voltava, sempre na faixa em que o mar se encontrava com as areias. A água fria molhava seus pés e respingava pelas pernas, refrescando-as gostosamente, naquelas manhãs quentes do verão de Niterói. Era agravável andar pela praia, podendo observar a paisagem tão bela que se oferecia a seus olhos. Para além do mar, do outro lado da baía, está o Rio de Janeiro, com o recorte de seus morros, onde se destacam o Corcovado e o Pão de Açúcar. Do lado de cá, temos o longo contorno das praias e, onde elas terminam, na elevação que conduz à Boa Viagem, a imponência do Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
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